O novo álbum é o quarto da banda
Em época em que os discos são fatiados single por single em lançamentos, O Terno solta hoje, 23 de abril, um trabalho único em unidade temática que precisa ser observado por variados ângulos . “<atrás/além>” é uma obra para ser escutada com atenção, lida como um livro, assistida como um filme e vista como um quadro.
Ouça aqui.
Tanto quanto um release, este texto serve para colocar em palavras a dimensão artística que o grupo paulistano alcançou em seu quarto disco, com arranjos orquestrais mais refinados e grandiosos do que nos trabalhos anteriores, alcançando uma música que escorre para todos os lados. Isto é, ultrapassa fronteiras esperadas e conhecidas, seja de jazz, indie, MPB, música erudita ou rock.
O som, assim, torna-se universal, dentro de todo espectro de possibilidades do pop, com produção, arranjos, mixagem e, claro, composição sob a assinatura de Tim Bernardes.
Vamos começar pelo som. Enquanto o primeiro disco, “66” (2012), representava muito d’O Terno vestido de terninho sixtie, o segundo – “O Terno” (2014) – traçava curva mais psicodélica e o anterior – “Melhor do que Parece” (2016) – resvalava no Tropicalismo e MPB, em “<atrás/além>” a orquestração, os arranjos apurados, os metais e cordas fazem com que muitas vezes o trio soe mais como grupo de apoio do que protagonista. E isso é bom. Pois a música fala mais alto do que a guitarra e vocal de Tim Bernardes, o baixo de Guilherme d’Almeida e/ou a bateria de Biel Basile.

“É uma tentativa de expansão e não ficar preso a uma fórmula. Algo como ‘não vamos nos prender a sermos um power trio; estamos ali mais como um grupo, produzindo música num sentido mais livre e solto'”, diz Tim.
O conceito de abertura e liberdade criativa começa pela capa, com um quê de poesia concreta no aspecto geométrico ligado à arte, o branco conceitual criando um horizonte sem limites e as três esferas em cores primárias a representar três caminhos que se unem para a solução da equação na soma desses.
A divisão tripartida concretista do nome da banda reforça o conceito, em que o “O” simboliza o indivíduo, o sujeito; o “Ter” remete à bagagem que se carrega, e o “No” à situação, onde se está, para onde ir e de onde se veio.
“Traz essa marca de referências assimiladas e a não a premeditação ao se fazer (o disco)”, sugere o cantor e compositor.

A unidade temática e conceitual traduz-se igualmente em textos (letras) e harmonia na sequência de 12 belas canções, resultando em conjunção de tudo o que o grupo fez e foi até aqui. Daí a sugestão de se encarar como uma experiência literária ou um filme a ser assistido.
Se nos discos anteriores as músicas se sustentavam em unidades individuais, neste “<atrás/além>” esse consumo em fatias é igualmente possível. Mas a receita faz todo o sentido quando seguida da música 1 à 12, que chegam também na versão de vinil duplo com três canções por lado.
“(Nos três primeiros álbuns) existiam contrastes entre as músicas – uma era mais porrada, outra mais calma, uma falava de um assunto, outra, de algo completamente diferente. Resolvemos não fracionar assim.”
Realmente é difícil fazer referência às canções sem que seja em blocos. Em “Nada/Tudo” (primeiro single), “Pegando Leve” (segundo single) e “Pra Sempre Será” o vibrafone somado ao violino, trompete, trombone e eventualmente um theremin traz uma grandiosidade sonora à fórmula eclética.
Já em “Volta e Meia”, com participação de Devendra Banhart e Shintaro Sakamoto, o sintetizador cria nuance mais intimista, assim como em “Profundo/Superficial”, com sax e trompete.
O trabalho de produção, arranjos e mixagem sobressai no disco todo, e salta aos ouvidos junto aos metais em “Passado/Futuro”, “O Bilhete” e a quase orquestração completa na derradeira “E No Final”.
Ou por outra, agora que já conhece mais peças importantes do viés criativo, largue o texto e aproveite todas as nuances de “<atrás/além>” na prática.