Ficamos vendo se ele apontava no espumeiro mas nada, e vinha uma onda maior atrás de outra quebrando sem parar.
Quando passaram 3 ou 4 ondas depois da vaca dele e ele não apareceu, começamos a sinalizar pros salva vidas da praia que tinha algo muito errado no mar, mas eles pareciam não entender a gravidade da situação e muito lentos ainda procurando do ponto de observação deles algum movimento. Foi então que nós no cliff resolvemos tentar ajudar.
Deixei minha máquina com a namorada de um amigo e fui com mais 2 camaradas pra borda do cliff de onde nos jogamos no mar.
Nessa hora já avisamos outros surfistas que também tinham se tocado do que tinha acontecido e estavam com as pranchas seguindo pra onde ele deveria estar.
Estávamos na bancada tentando orientar os surfistas na água quando finalmente vimos alguém segurando o cara já bem exaurido e todo lanhado.
Ele mal conseguia ficar em pé.
Nesse momento apareceram outros pra ajudar já que ele tinha quase 2 metros e certamente mais de 100 kg.
Então vi que um dos que ajudavam ele era o
Kxot e o outro acho que era Rodrigo Digone, com mais alguns.
A situação era tensa, com o peruano soltando espuma, tossindo, chorando e mal conseguia se segurar em pé.
Foi só quando finalmente ele chegou perto da praia que os salva vidas apareceram pra dar um socorro mais efetivo.
O peruano tava profundamente abalado e não parava de tossir e chorar e era triste ver um cara daquele tamanho naquela situação, sangrando e todo rasgado.
Fiquei feliz de ter tido a sensatez de não surfar aquele mar e me colocar talvez numa situação de vida ou morte daquelas, e fiquei mais feliz ainda de ter podido ajudar.
Deixamos ele aos cuidados dos salva vidas, voltei pro cliff pra pegar minha máquina e seguir pra pousada pra descansar e tratar os pés com alguns cortes e pontas de ouriço por ter ficado andando na bancada.
Algumas horas mais tarde estávamos reunidos no restaurante do Padang Padang inn falando sobre o dia quando chegou o peruano com mais alguns camaradas.
Ele abraçou calorosamente o Kxa e o Digones chorando e agradecendo muito, e dava pena ver como ele ficou todo ferido pelo coral dos pés a cabeça. Ele mais uma vez agradeceu a todos e convidou a galera pra um barbecue em homenagem a raça.
Lembro que foi uma das festas mais memoráveis que participei lá, indo até a manhã seguinte.
São daqueles momentos que fazem a gente refletir sobre a vida e pensar o que realmente vale a pena.