NOS TEMPOS DA “MARVADA”, PARTE II – SURF TRIP NA LAGOINHA DO LESTE
POR: KIKO BUNGUS
Ali por meados dos anos 90, quando já vigorava a famigerada e estapafúrdia Lei da Pesca da Tainha, nós passávamos praticamente os 2 meses de proibição do surf na maioria das praias surfando na Lagoinha do Leste.
Onde o Carlinhos (prof. de Física da UFSC) tinha um barraco de pedras perto do barraco do Tibúrcio, ali mais pro meio da praia da Lagoinha do Leste, e usávamos o local como área de acampamento.
As vezes a expectativa de boas ondas fazia com que subíssemos o morro da Lagoinha do Leste de noite, mesmo carregando mantimentos, pranchas, barraca e tudo mais, além da pombóca (lata sem tampa com uma vela dentro e com alça improvisada, usada como lanterna).
Certo dia subíamos apressados o morro do Pântano do Sul pra Lagoinha do Leste quando já perto do topo eu resvalei o pé e bati com o dedão com toda força em uma pedra fazendo com que o dedão quase explodisse.
A dor era tanta que dei um berro gutural e joguei tudo pelo chão, menos o garrafão de cachaça, porque era muito precioso!
Eu me retorcia de dor enquanto a raça caia na gargalhada sem piedade, como todo bom amigo nessas ocasiões.
Quando finalmente a dor era tanta que anestesiou até a perna e eu tinha acabado meu estoque de palavrões, resolvemos seguir caminho.
Aquelas alturas eu já senti que meu surf na Lagoinha do Leste tinha ido pro escambau junto com meu dedão, mas o importante agora era chegar logo ao acampamento.
Quando passamos pela casa do Tibúrcio a caminho do Carlinho, ele veio ao nosso encontro, todo feliz por ver tantos garrafões de cachaça e vinho a disposição.
Ajeitamos as coisas no acampamento e enquanto a raça armava as barracas eu tentava dar um jeito no meu dedo em frangalhos.
O Tibúrcio, vendo meu sofrimento falou que o ideal seria eu por o dedão dentro de um copo com cachaça e deixar a “marvada” fazer efeito anestesiando ele.
Como eu não entendia bem desses assuntos etílicos e respeitava os conhecimentos de um “caboclo” que já vivia ali na Lagoinha do Leste a bastante tempo, resolvi testar.
Lavei bem o dedão e botei dentro de um copo cheio de cana.
Ele tava tão quente e latejante que achei que a mistura ia explodir, mas infelizmente não aconteceu nada além de arder muito.
A dor não passava, nem o latejamento.
Depois de uma hora naquela situação eu pensei bem e resolvi tomar o copo de cachaça que eu ganharia mais.
Depois de mais uns 2 copos eu consegui finalmente dormir.
No outro dia o mar estava épico, sem vento e com ondas tubulares pros 2 lados por praticamente toda a praia.
A galera eufórica foi rápido pra água enquanto eu tentava fazer um curativo suficientemente bom pra que o dedão me deixasse surfar.
Já no caminho e ao entrar na água eu percebi que não tinha jeito e eu teria que ficar de molho uns dias.
Ô castigo…..
Bom, naquelas alturas meu consolo era ver os amigos fazendo a cabeça.
Naquela tela de cinema gigante da Lagoinha do Leste, enquanto eu tomava batidinha de maracujá (cachaça, maracujá e açúcar) pra anestesiar o dedão e a mente.
No 4º ou 5º dia finalmente pude ir pra água, mesmo sem unha e com o dedo ainda doendo muito e ali me prometi que nunca mais subiria o morro antes do surf, muito menos descalço.
A vida é feita de aprendizados e quanto mais doloridos, mais eficientes.
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