Era normal os animais comerem a comida da galera desavisada que ia acampar lá e nós, “macacos escaldados”, tínhamos a técnica de amarrar tudo e deixar suspenso em galhos ou pendurado dentro do barraco, mas mesmo assim, vez ou outra, éramos surpreendidos por algum animal mais astuto que levava parte das provisões.
Então a técnica era comermos tudo que era mais atrativo nos primeiros dias, como o leite condensado, leite em pó e mel, e o resto irmos racionando o máximo possível.
Logo que algo bom era aberto era um Deus nos acuda pra comer o máximo possível no mínimo de tempo, com a gulodice dos selvagens famintos, sem nenhum respeito a regras de etiqueta ou sanitárias.
Caiu no chão, um sopro forte resolvia e areia era tempero.
A medida que as provisões iam acabando e queríamos esticar mais a estadia, apelávamos pra pesca de pitus nos riachos e na lagoinha, tatuíras na beira da praia, e se as condições estivessem boas, pegar mariscos e pescar no costão, que sempre trazia ótimas surpresas.
Por vezes encontrávamos peixes moribundos na beira mar e não pensávamos 2 vezes antes de mandar eles pra panela.
Nada era desperdiçado e tinha ocasiões em que a panela parecia que nem precisava ser lavada de tão limpa que ficava depois de meticulosamente rapada e até lambida.
Famoso polimento com saliva.
Como eu disse, larica é coisa feia e revela o lado mais obscuro das pessoas, principalmente depois de seções de surf de 4, 6 ou mais horas ininterruptas.
Por vezes parecia temermos pelo canibalismo.
Mas exagero a parte, quem desse mole podia ser garfado, tanto figurativamente quanto literalmente.
Era só bobear na hora de se servir enquanto a galera atacava a panela vorazmente.
Educação e demonstração de alguma formalidade ou etiqueta, só quando tinha alguma gatinha junto, senão era a lei do mais forte e rápido.